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O legado conturbado de David Reis: do ‘puxadinho’ milionário ao inquérito por nepotismo, uma teia de escândalos na CMM

Reis busca virar a página de vez e aproveitar a visibilidade para reconstruir a narrativa pública sobre si mesmo
10/12/25 às 17:46h
O legado conturbado de David Reis: do ‘puxadinho’ milionário ao inquérito por nepotismo, uma teia de escândalos na CMM

David Reis contrata por R$ 1,5 milhão empresa de combustíveis para serviços de limpeza da CMM (Foto: Robervaldo Rocha/CMM)

Desde que assumiu a presidência da Câmara Municipal de Manaus (CMM), o vereador David Reis (Avante) reuniu uma série de episódios polêmicos. Com uma trajetória marcada por turbulências que se estende por diferentes fases do seu mandato, sempre acompanhado de críticas e questionamentos, que dividem opiniões e mantém a Câmara no centro do noticiário. Mas não de forma positiva.

A seguir, a Rede Onda Digital firmou um panorama dos principais escândalos por ano, sem acusações definitivas, mas com forte carga de denúncia e desgaste público:

2021

Em seu primeiro ano à frente da CMM, Reis aprovou o aumento da chamada Cota para o Exercício Parlamentar, o famigerado “Cotão”, elevando recursos de gabinete de R$ 18 mil para mais de R$ 33 mil mensais, um aumento de 83%.

No mesmo ano, a Casa aprovou contratos considerados bem exagerados, R$ 3,1 milhões para transmissão ao vivo de sessões, R$ 829 mil em segurança de portaria e R$ 500 mil para segurança privada. Também foram gastos valores polêmicos com itens banais, como café e açúcar.

contrato para transmissões na CMM.

Ainda em 2021 foi autorizada a compra de equipamentos de “divulgação” para os vereadores, o batizado de “kit-selfie”, que logo se tornaria um dos símbolos da gestão criticada.

Assuntos que repercutiram em 2022

Em março, a compra dos “kits-selfie” para os 41 vereadores, totalizando cerca de R$ 649 mil, causou indignação. Reis, procurado pela imprensa local e nacional, chegando a ser veiculado no Jornal Nacional, da TV Globo, ironizou os questionamentos e se recusou a dar explicações claras.

 

Ele patrocinou o projeto de construção de um prédio anexo à CMM, apelidado de “puxadinho”, orçado em R$ 32 milhões, que acabou sendo alvo de forte reação negativa. A obra, muito criticada, foi suspensa após ação de outros vereadores e decisão judicial. Mesmo acontecendo em 2021, marcou a gestão de David Reis até hoje.

A gestão foi marcada por denúncias de contratos superfaturados, favorecimento de empresas sem capacidade técnica (como a que ofereceu instalação de painéis solares à CMM) e aquisições consideradas questionáveis, como a compra de café e açúcar em valores altos.

Há registro também de contratação de veículos para vereadores, 41 picapes alugadas, por valores altos, e muita crítica popular, levando ao cancelamento da licitação.

Edital da licitação

A produção legislativa da CMM sob seu comando foi considerada modesta, para não dizer inativa: durante 2021-2022, poucos projetos de lei foram apresentados frente ao volume de requerimentos, moções e indicações.

 

Final de 2022

Com a proximidade do fim do biênio, Reis tentou (de acordo com as informações de opositores) uma manobra para prolongar seu mandato como presidente da CMM além do permitido, alterando regras internas (regimento e lei orgânica).

A tentativa foi falha: 20 vereadores assinaram documento para impedir a reeleição automática, e a presidência da Casa foi destinada a outro vereador.

2025

Mesmo com o histórico de denúncias, em 1º de janeiro de 2025, 35 dos 41 vereadores, uma maioria confortável, elegeram David Reis novamente presidente da CMM para o biênio 2025-2026. A escolha gerou críticas entre setores da sociedade, que lembraram o passado recente de “escândalos e gastos descontrolados”.

A reeleição de Reis, mesmo incomodando eleitores e parte da sociedade, revela o peso da política de compadrio e alianças em Manaus, uma contradição que gera tanto indignação quanto curiosidade.

A base que elegeu Reis tenta minimizar o impacto das denúncias e sustenta que a experiência dele pode garantir estabilidade política à Casa. Já opositores afirmam que cada novo episódio apenas reforça a necessidade de acompanhamento rigoroso dos atos da presidência.

Em 9 de julho de 2025, o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) deu início a uma investigação formal de denúncia de nepotismo contra Reis: ele teria nomeado sua tia, Aldenizia Rodrigues Valente, como diretora de Contabilidade da CMM, com salário bruto de R$ 19 mil, em possível afronta à Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal (STF).

A nova investigação soma-se a uma série de outras apurações pendentes no TCE-AM e no Ministério Público do Amazonas (MPAM), envolvendo contratos sem licitação, gastos públicos e possíveis irregularidades.

O futuro político de David Reis: alcançar novos horizontes

O clima é de atenção redobrada desde que David Reis voltou a se movimentar politicamente e começou a sinalizar, que está à disposição do partido para disputar as eleições de 2026. A fala, aparentemente calculada, reacendeu discussões internas e trouxe à tona lembranças de uma trajetória marcada por episódios controversos, que seguem acompanhando o parlamentar onde quer que ele pise.

O reposicionamento acontece num momento em que Reis tenta consolidar novamente sua imagem após um período de forte desgaste. O retorno à presidência da CMM, em janeiro de 2025, já havia surpreendido parte do cenário político.

Ao afirmar que está à disposição do Avante para disputar as eleições de 2026, Reis testa a temperatura do ambiente político e mede a disposição do partido e de aliados para abraçar seu nome em uma campanha para deputado estadual. Para interlocutores próximos, o gesto é um recado claro de que ele não pretende restringir sua atuação aos limites da Câmara.

A leitura que podemos ter é a seguinte: Reis busca virar a página de vez e aproveitar a visibilidade do cargo para reconstruir a narrativa pública sobre si mesmo. Mas a sombra das polêmicas ainda ronda sua trajetória, e os próximos meses dirão se o vereador conseguirá transformar desgaste em capital político ou se as investigações e o histórico recente continuarão pesando sobre suas ambições eleitorais.

Mas, uma coisa é certa: a disputa de 2026 já bate à porta, e David Reis se movimenta para garantir que seu nome esteja nela.