Oniomania: o que é o transtorno compulsivo por compras

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As vitrines iluminadas, os shoppings lotados e a sensação de que é “a melhor época do ano para comprar” fazem parte do clima típico do Natal. Para muitos, é o momento de presentear a família, aproveitar promoções e realizar desejos acumulados ao longo do ano. Mas, para algumas pessoas, esse impulso deixa de ser saudável e passa a ser um transtorno: a oniomania, conhecida como compulsão por compras.
Na ciência, a oniomania é um transtorno de controle de impulsos marcado pelo comportamento repetitivo de comprar e gastar descontroladamente, com dificuldade, ou incapacidade, de resistir ao impulso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre com esse distúrbio.
No Brasil, estima-se que cerca de 3% da população seja afetada, um índice três vezes superior ao registrado nos Estados Unidos, onde a prevalência gira em torno de 1%. O transtorno atinge majoritariamente mulheres, que representam aproximadamente 80% dos casos, e costuma ter início por volta dos 18 anos.
Consumismo não é o mesmo que compulsão
Nem toda pessoa que gosta de comprar ou que se empolga com presentes de Natal é compulsiva. A psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do Programa para Compradores Compulsivos do Hospital das Clínicas (HC-FMUSP), uma referência nacional no assunto, ressalta a diferença:
“O consumista consome como todo mundo consome, pelo prazer, pelo desejo, para estar inserido em um contexto social e cultural. Já o comprador compulsivo consome em excesso. É uma condição muito vinculada a suprir uma necessidade emocional.”

O comprador compulsivo tenta reduzir tensões internas ou aliviar emoções negativas através da compra. Por isso, a oniomania tem forte relação com ansiedade e depressão.
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Quando o impulso toma conta
A psicanalista Monik Sittoni, especialista no assunto e referência nacional, explica que, na compulsão, a pessoa perde o controle sobre o ato de comprar:
“É uma ação que toma conta da pessoa e a leva para uma execução que depois, quando esse impulso acaba, ela não consegue sequer entender qual foi a lógica que aplicou realizando aquele movimento.”
O ciclo emocional é semelhante ao de uma dependência química: há excitação antes da compra e um breve alívio ao finalizá-la. Depois, vêm o arrependimento e a culpa.
Sittoni reforça que o alívio após a compra “é fracionado, pequeno e nunca pleno”.

Consequencias da oniomania: endividamento
Os efeitos dessa desorganização emocional aparecem, na prática, no aumento do endividamento. De acordo com dados do Serasa, entre 2020 e 2025, mais de 15 milhões de brasileiros com mais de 60 anos tiveram seus nomes negativados.
No Amazonas, o quadro também é preocupante: em maio deste ano, cerca de 1,6 milhão de pessoas estavam inadimplentes, sendo 495 mil com dívidas bancárias, o equivalente a 55,13% da população do estado. As principais pendências financeiras estão relacionadas a cartões de crédito, empréstimos, contas de consumo e dívidas no varejo.
O cenário mostra como o consumo descontrolado, especialmente quando associado a problemas emocionais como a oniomania, não fica restrito ao ato de comprar: ele se transforma em um problema de longo prazo, que atinge principalmente a renda familiar e, em muitos casos, idosos e aposentados.
Não é falta de organização: é emocional
Por se tratar de um transtorno psicológico, a oniomania exige tratamento especializado, que pode incluir psicoterapia e, em alguns casos, acompanhamento psiquiátrico.
Tatiana Filomensky é direta:
“Não é um problema de organização financeira. É um problema emocional que leva a um desequilíbrio financeiro.”
Sem tratamento, a compulsão pode gerar endividamento grave, conflitos familiares e prejuízos profundos na vida pessoal.
O Natal não causa compulsão, mas pode ser um gatilho
O Natal, por si só, não desencadeia a oniomania. Porém, por ser uma data marcada por ofertas, apelos emocionais e incentivo ao consumo, seja nos shoppings decorados, nas campanhas de presente ou na pressão social, ele se torna um ambiente propício para quem já sofre com o transtorno.
“No caso do comprador compulsivo, há um terreno muito fértil nessa época do ano, pelo medo de perder oportunidades. O Natal pode ser extremamente viciante para esses perfis e favorece que caiam mais facilmente nas estratégias de consumo”, afirma Tatiana.
Como se proteger dos impulsos no Natal
Para quem tem compulsão por compras, ou quer evitar exageros, listamos estratégias eficazes:
1. Faça uma lista do que realmente precisa comprar
O excesso de estímulos no Natal facilita a perda de controle.
2. Analise se a compra é viável
Avalie necessidade, utilidade e capacidade real de pagamento.
3. Compartilhe planos de compra com pessoas de confiança
Amigos e familiares podem ajudar a evitar impulsos e armadilhas.
4. Dê tempo ao desejo
Passe alguns dias pensando antes de comprar. Vá a lojas físicas, compare preços e reflita.
*Com informações de G1






