Caverna secreta sob a Lua pode virar abrigo para astronautas, dizem cientistas

(Foto: Reprodução/Freepik)
Descoberta em Mare Tranquillitatis revela tubo de lava lunar que pode oferecer abrigo natural contra radiação e temperaturas extremas
Pesquisadores confirmaram a existência de uma caverna real e acessível logo abaixo da superfície da Lua, na região conhecida como Mare Tranquillitatis. A descoberta, publicada na revista Nature Astronomy, fortalece a possibilidade de que futuras bases lunares sejam instaladas no subsolo, em ambientes naturalmente protegidos.
A caverna está localizada abaixo do chamado Mare Tranquillitatis pit, um poço na superfície lunar que intriga cientistas desde que foi identificado pelas câmeras da sonda Lunar Reconnaissance Orbiter. Por anos, essa abertura levantou a suspeita de que não se tratava apenas de um buraco isolado, mas de uma entrada para um sistema subterrâneo. A hipótese foi confirmada após a reanálise de dados de radar coletados em 2010 pelo instrumento Mini-RF.
De acordo com o estudo, técnicas modernas de processamento permitiram identificar ecos de radar compatíveis com um conduto subterrâneo oco, conectado diretamente à base do poço. Os autores descrevem a descoberta como a primeira evidência direta de um tubo de lava lunar acessível, algo que até então era sustentado apenas por modelos teóricos e comparações com estruturas vulcânicas da Terra.
Como é a caverna recém-descoberta
A equipe analisou reflexões secundárias do radar, um padrão que surge quando o sinal encontra superfícies internas, como teto e paredes de uma caverna. Com base nesses dados, os pesquisadores concluíram que o conduto tem dezenas de metros de extensão e cerca de 40 a 50 metros de largura, formando um espaço amplo e potencialmente navegável.
O poço de acesso possui aproximadamente 100 metros de diâmetro e profundidade estimada entre 130 e 170 metros. Essas dimensões reforçam a interpretação de que o Mare Tranquillitatis pit funciona como uma claraboia natural, formada pelo colapso de um antigo teto vulcânico.
O artigo aponta que a estrutura é consistente com um tubo de lava intacto, criado há bilhões de anos, quando fluxos de magma percorreram o interior da Lua, solidificando-se externamente enquanto o material líquido continuava a escoar pelo centro.
Por que a caverna pode ser um abrigo ideal
As condições extremas da superfície lunar exigem que missões tripuladas contem com sistemas complexos de proteção contra radiação, micrometeoritos e variações bruscas de temperatura, que vão de 127 °C a menos 173 °C. Nesse cenário, cavernas naturais surgem como uma alternativa estratégica.
Segundo o estudo, metros de rocha oferecem blindagem eficiente contra partículas solares e raios cósmicos, além de eliminar o risco constante de impactos de micrometeoritos, comuns na Lua devido à ausência de atmosfera.
Embora o trabalho não modele diretamente a temperatura interna da caverna, pesquisas anteriores indicam que regiões permanentemente sombreadas desses poços mantêm temperaturas próximas a 17 °C, muito mais estáveis do que na superfície. Isso reduz significativamente os desafios térmicos e energéticos para a construção de habitats.
Outro ponto destacado é o espaço interno. Grandes salões de tubos de lava podem abrigar módulos pressurizados, sistemas de suporte à vida, estoques e laboratórios, sem a necessidade de escavações extensas.
Saiba mais:
Células modificadas vencem leucemia agressiva e colocam pacientes em remissão histórica
Pastora de 51 anos anuncia ser mulher trans durante culto nos EUA
Impacto para a exploração lunar
A descoberta é considerada um marco para a próxima fase da exploração espacial. O estudo afirma que o Mare Tranquillitatis pit passa a ser um local viável para futuras missões robóticas dedicadas a descer no poço e mapear o interior da caverna. O que antes era apenas uma hipótese científica agora se transforma em um alvo concreto de exploração.
Os autores alertam, no entanto, que ainda há limitações. O radar identifica o conduto, mas não permite mapear toda a sua extensão, nem avaliar completamente a estabilidade do teto ou a existência de ramificações. Antes de qualquer missão tripulada, seria necessário enviar robôs capazes de explorar o interior em três dimensões.
Mesmo com essas incertezas, os pesquisadores destacam que a descoberta funciona como uma prova de conceito. Se uma caverna acessível existe em Mare Tranquillitatis, outras estruturas semelhantes podem estar espalhadas pela Lua, inclusive nas regiões polares, onde há presença de gelo. Isso amplia o potencial para a instalação de bases subterrâneas protegidas, com acesso direto a água congelada, um recurso essencial para a permanência humana fora da Terra.
*Com informações da CNN Brasil.






