Natal com o pai ou com a mãe? Como famílias separadas definem as festas de fim de ano

Foto: iStock/BrianAJackson
As festas de fim de ano geralmente são marcadas pelas celebrações em família com mesas repletas de comidas gostosas, união, presentes e reencontros. Mas, para pais separados, esse período pode vir acompanhado de um desafio que é dividir o convívio dos filhos com os ex-companheiros sem transformar o clima festivo em confusão.
Um exemplo prático dessa realidade vem do relato de Roger Salles, que é pai de um menino. Seu filho mora com os avós maternos, e todas as decisões sobre o convívio são definidas em conjunto com eles.

“Um lado ou outro cede na paz, nada tão grande a ponto de discussões tóxicas. Como eu disse, ele mora com os avós maternos e com esses, sim, eu tenho uma ótima relação. Um ano ele passa Natal comigo, outro o Revéillon”, explicou.
Roger destacou que sente a falta do filho quando não passa alguma data comemorativa com ele, mas tudo é planejado com flexibilidade.
“Uma falta, mas ele tem a família da mãe, né? Tudo é dividido na paz. Ano passado, ele passou o Natal comigo, então esse ano talvez eu não passe. Houve um ano que ele não passou nem comigo, nem com a família da mãe, porque a minha mãe viajou com ele para outra cidade, aí a tutela foi dela”, relatou.
O pai reforçou que o segredo para uma convivência harmoniosa é o diálogo aliado ao bom senso. “Diálogo e bom senso, não tomar pra si na base do egoísmo o protagonismo na vida da criança, afinal o filho não tem nada a ver com os problemas e mágoas dos pais”, concluiu.
A importância do diálogo

Segundo a psicóloga Alcilene Moreira, planejar as festas de fim de ano com os filhos após uma separação é um desafio que exige maturidade, diálogo e muito carinho. O primeiro passo é reconhecer que, embora seja uma fase sensível, é possível transformá-la em uma experiência emocionalmente saudável para toda a família.
“Minha sugestão, sob uma perspectiva clínica, é tratar a comunicação como uma espécie de “reunião de negócios”. O tom deve ser formal, cortês e altamente focado no objetivo (o bem-estar da criança). Deixamos as emoções e mágoas do relacionamento adulto de lado para focar na logística parental. A assertividade, combinada com a antecedência, é a sua melhor aliada. Decidam o calendário meses antes, se possível, e apresentem o plano de forma unificada à criança”, explicou.
Ausência da ‘família original’
De acordo com Alcilene, é natural que, nas primeiras celebrações após a separação, os pequenos sintam um luto pela tradição perdida e pela ausência da “família original”. Porém, quando a alternância é estável e previsível, a criança passa a compreender que há espaço para ela em ambos os lares e aprende a construir novas tradições em cada um.
“É natural que, no início, a criança sinta um luto pela tradição perdida. É uma tristeza legítima por não ter a “família original” reunida. Contudo, querido (a) pai/mãe, aqui está o ponto-chave: a alternância, quando feita com previsibilidade e rotina, é uma ferramenta poderosa! Ela ensina a criança que há espaço para ela em ambos os lares e permite a criação de novas e significativas tradições em cada núcleo. O impacto é minimizado pela estabilidade do esquema: se ela souber que todo Natal ímpar é com o pai, e par com a mãe, a ansiedade diminui muito”, sugeriu.
A psicóloga orienta os pais a não perguntarem para os filhos sobre com quem preferem passar as festas de fim de ano, pois essa decisão deve ser inteiramente dos adultos.
“Aqui, minha orientação é categórica: a criança não deve ser consultada sobre quem ela prefere. O ônus da decisão pertence 100% aos adultos. Perguntar a ela é forçá-la a trair a lealdade de um dos pais, um conflito emocional que ela não tem ferramentas para resolver. Apresentem o calendário como um acordo positivo e inegociável entre vocês”, destacou.
Alcilene orienta, ainda, que os pais não tentem apagar o passado, mas o ressignifiquem com delicadeza. Uma forma saudável de fazer isso é dizer algo como: “Aquele tempo foi importante e temos lembranças lindas. Hoje nossa família é diferente, mas continua cheia de amor, só mudou a forma de se organizar”, pontua.
“Ao fazer isso, você ensina à criança que a família se transformou, mas o amor é inabalável”, concluiu.






